19 de jan. de 2014

Café da Ilha do Fogo, um amor correspondido!


Apendi a gostar de Cabo Verde pelo coração e olhos do meu amigo Zito e todos amigos dele , que como boa filha da Bahia,  brasileira  de coracão farto, incorporei ao meu patrimonio.

Ontem o Valdemar, um destes por mim tombado, me perguntou se ja conhecia VOCÊ: BRASIL do filho de Cabo Verde Jorge Barbosa.  Faco melhor, transcrevo a poesa e transfiro a pergunta:-como não conhecer quem nos conhece tanto?!

Chamo todos para um cafezinho recém passado, que mesmo não sendo da ilha do fogo , nos reuni de canecas na mão,  sol a pino e calor de verão a nos mostra; pela  poesia de Barbosa, o quanto somos paridos de uma mesma alma, nas alegrias e nas tristezas.

Caro Valdemar, a nossa identidade é tecida com o amor pelas raízes,  pela luta por justiça,  pela simplicidade dos sorrisos e do suor que escorre do nosso trabalho.

Dia destes, espero poder passear em Mindelo e saltitar nas ilhas, procando seus mariscos e peixes... Poder ir ao velho Eden Park,   e comemorar a sua preservação.

Quero ouvir a rádio no coreto, dancar, fotografar e abraça-los de perto porque eu gosto de Você , meu Antão, meu Cabo Verde, assim como gosto do meu Brasil.

Que o café bebido forte nos una ainda mais!

"VOCÊ: BRASIL
 Eu gosto de você, Brasil,porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundãoe que a minha terra são dez ilhas perdidas no Atlântico,sem nenhuma importância no mapa.
Eu já ouvi falar de suas cidades: A maravilha do Rio de Janeiro,São Paulo dinâmico, Pernambuco, Bahia de Todos-os-Santos.
Ao passo que as daqui
Não passam de três pequenas cidades.Eu sei tudo isso perfeitamente bem,mas Você é parecido com a minha terra. 
E o seu povo que se parece com o meu,que todos eles vieram de escravos com o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros.
E o seu falar português que se parece com o nosso falar, ambos cheiros de um sotaque vagaroso,de sílabas pisadas na ponta da língua,de alongamentos timbrados nos lábiose de expressões terníssimas e desconcertantes.
É a alma da nossa gente humilde que reflete
A alma das sua gente simples, Ambas cristãs e supersticiosas,sortindo ainda saudades antigas dos sertões africanos,compreendendo uma poesia natural,que ninguém lhes disse,e sabendo uma filosofia sem erudição,que ninguém lhes ensinou. 
E gosto dos seus sambas, Brasil, das suas batucadas. dos seus cateretês, das suas todas de negros,caiu também no gosto da gente de cá,que os canta dança e sente,com o mesmo entusiasmoe com o mesmo desalinho também...
As nossas mornas, as nossas polcas, os nossos cantares,fazem lembrar as suas músicas,com igual simplicidade e igual emoção. 
Você, Brasil, é parecido com a minha terra,as secas do Ceará são as nossas estiagens,com a mesma intensidade de dramas e renúncias.Mas há no entanto uma diferença: é que os seus retirantes têm léguas sem conta para fugir dos flagelos,ao passo que aqui nem chega a haver os que fogem"porque seria para se afogarem no mar...
Nós também temos a nossa cachaça,O grog de cana que é bebida rija.Temos também os nossos tocadores de violão:E sem eles não havia bailes de jeito.Conhecem na perfeição todos os tons e causam sucesso nas serenatas,feitas de propósito para despertar as moças que ficam na cama a dormir nas noites de lua cheia.Temos também o nosso café da ilha do Fogo que é pena ser pouco,mas — você não fica zangado —é melhor do que o seu. 
Eu gosto, de Você, Brasil.
Você é parecido com a minha terra.
O que é é tudo e à grande
E tudo aqui é em ponto mais pequeno...Eu desejava ir-lhe fazer uma visitamas isso é coisa impossível.
Eu gostava de ver de perto as coisas espantosas que todos me contam de Você,de assistir aos sambas nos morros,de esta cidadezinha do interiorque Ribeiro Couto descobriu num dia de muita ternura,de me deixar arrastar na Praça Onzena terça-feira de Carnaval.
Eu gostava de ver de perto um lugar no Sertão,d de apertar a cintura de uma cabocla — Você deixa? —e rolar com ela um maxixe requebrado.
Eu gostava enfim de o conhecer de mais perto e você veria como é que eu sou bom camarada. 
Havia então de botar uma fala ao poeta Manuel Bandeirade fazer uma consulta ao Dr. Jorge de Limapara ver como é que a poesia receitava este meu fígado tropical bastante cansado.
Havia de falar como VocêCom um i no si— “si faz favor —de trocar sempre os pronomes para antes dos verbos— “mi dá um cigarro!”. Mas tudo isso são coisas impossíveis, — Você sabe?Impossíveis"

Nada é impossível aos corações que se encontram por puro respeito e  amor.

Beijos meus amigos, desejo vê-los em breve.

Estas duas últimas fotos, uma do documentario Quebradeiras e a outra do encontro de fé, entre filhas de santo-Oxalá e freiras na festa da lavagem do Bomfim, ficarei devendo os créditos  aos fotigrafos.Ambas demostram a diversidade do nosso povo.

4 comentários:

  1. Já lá vão uns dias...O cafézinho esfriou mas, como é do Fogo, não perdeu o arôma...Como não perderá a graça e o vigor a poética de Jorge Barbosa, um homem grande, em todos os parâmetros e que tive o privilégio de conhecer de muito perto, pois a esposa era prima direita de Maiúca, minha mulher...Quanto a identidades, minha filha, somos todos larvas da mesma ferida cósmica só que, por vezes, fazemos de conta que somos diferentes...Valdemar é boa gente, como nós todos, incluindo os que aínda não nasceram!
    Bjs quentes, como o vulcão do Fôgo,
    Zito

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    1. Querido amigo,
      tive que traze-lo sob pedidos a este pequeno espaço, reduto da minha ignorância feliz e que hoje , graças ao seu alerta ao Valdemar, rendeu-me alegrias e um novo post de amor a Cabo Verde.
      No novo post tá explicada toda nossa amizade.
      Beijos fraternos

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  2. Caríssima bahiana Nouredine:

    A resposta à minha pergunta ia passando sem eu der por isso não fosse o alerta do nosso comum amigo, esse mindelense de gema - o Zito - que conheci por volta dos meus oito aninhos na capital de S.Vicente, a cidade "mais sabe de munde" onde se vivia (se vive !?) a morabeza que nos enfeitiçou para vida inteira a ponto de nem querermos fazer comparações com a bela Lisboa ou mesmo Paris, Cidade Luz. Estas duas metrópoles foram feitas em "ponto grande" e cor sépia mas não foram dotadas da especiaria que é produzida em um só lugar: Cabo Verde.

    Regozijo-me saber que conhecia "Você Brasil", recado que vos mandou Jorge Barbosa demonstrando a nossa admiração, amizade e fraternidade pela Terra de Santa Cruz descoberta depois das ilhas (des)Afortunadas de onde nós somos e de onde dizem que muitos indígenas partiram para colorir as vossas festas e vossas crenças. Mas, felizmente guardamos a essência porque fazemos também o Carnaval, dançamos a coladeira e cantamos a morna que são muito parecidas com o samba e com o samba-canção.

    Sabe, Nouredini, muita coisa mais sabemos e muita coisa mais podemos falar mas não vou ser longo; só lhe peço para ler outro poeta mais antigo que Jorge Barbosa (1902-1971), José Lopes ([da Silva]1872-1962) de seu nome que, no seu livro "Hesperitanas" (1) escreveu o poema "Ao Brasil"(2), começando assim "Deixou-te Deus, para manter o mundo, / No dia antigo em que o mar profundo / A Atlântida lendária sumiu.../.

    Saravà, Nouredini !!!

    1) Livraria J.Rodrigues & C° - Rua do Ouro, 186 - Lisboa (edit. 1929 ? esgotado)

    2) Escrito a 28.03.1919 (pgs. 36 a 43)

    A notar uma curiosidade: - Se por um lado a esposa do Zito é prima da do Jorge Barbosa, a mesma é minha prima pelo lado dos Pereira. Ê o que dizemos em Cabo Verde "Munde ê pîqnim".

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    1. Valdemar,

      maior que a vergonha da minha ignorância é a minha alegria na descoberta de que somos todos irmãos atlantes.
      No post que segue a este, digo-lhes de onde vem meu amor por Cabo Verde.
      Abraços amigo e se puder, me envie o poema que não encontrei na integra.

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