7 de ago. de 2012

Seu Vavá

Quando a minha filha começou a ser alfabetizada nos anos 80, o livro dela tinha os personagens associados aos fonemas: Vavá, Vevé, Viví, Vovó... e para alegria dela, ela e só ela, tinha um vô Vavá, uma tia Vevé e uma tia Viví, alem das vovós. Era dela e para ela.

Seu Vavá gostava de café preto ralo servido no copo e com muito açúcar, de mel com farinha e da raspa de fundo de carne de panela com farinha. Gosto um tanto duvidoso, mas gosto não se discute. Era chamado carinhosamente de Vaso por D. Neide. Devia ser vaso de flores e esta foi a associação que fiz desde criança!

Seu Vavá, meu pai, era contador de formação, mas fora marceneiro, vendedor e depois virou funcionário público na função de Comissário de menores. Amigo de todos. Dono de gênio forte, mas domado, mantinha-o sob absoluto controle e raro se enfurecia.

Com ele aprendi a andar na cidade, enquanto ele fazia as suas sindicâncias, subindo e descendo ladeiras, também aprendiva fazer compras em dúzia ou meia, porque saía mais barato e a vê-lo perseguir um sonho nunca realizado: - aprender a montar e consertar rádios.

Seu Vavá era comissário, mas onde morávamos era respeitado como um juiz e primava pela nossa educação e nisto recebia todo apoio de minha mãe, que em verdade, foi quem o incentivou a estudar. Ao casar com aquele rapaz simples e virar dona de casa, ela já sabia falar inglês, tocar violino e bordar com linhas da ilha da madeira. Salvo a língua estrangeira, prendas que não nos repassou.

Seu Vavá teve 3 filhas e 1 filho temporão, trabalhou duro toda vida e acumulou durante muitos anos o seu trabalho de comissário com o de funcionário da secretária do curso de pedagogia Universidade Católica, onde, todo os anos com seu terno arrumado, era o funcionário homenageado dos formandos.

Formou todos os filhos, o que para ele era um orgulho, não os viu ultrapassar a barreira da pós graduação, o que ocorreu nos mais variados títulos especialistas, mestres, doutorandos, mas ainda os viu professores universitários. Professor, título para ele, o mais respeitoso. Três são funcionários públicos concursados, a profissão que considerava segura.

Hoje seu Vavá deve tá tomando um cafézinho em outras paradas e conversando com D. Neide e já contabilizando uma neta engenheira , funcionária publica concursada e uma estudante universitária. Com seu jeito paciente bebe mais um golinho do café já frio e diz: isto, digo das mais novas, porque as duas mais velhas, veja você... já são Professoras mestrandas!

Magrinho e grato pela vitória ...suspira e diz: o que eu posso querer mais! Consegui tudo que eu queria e você me ajudou a conquistar e , pousa a mão na mão de D. Neide, minha mãe. Ambos enxugam os olhos úmidos na ponta da toalha da mesa e ela lhe serve mais um cafezinho ralo e açucarado, do jeitinho que ele gosta.

De cá, faço um espresso puro e tomo em homenagem a Meus pais, Waldemar e Neide e mando dizer que vai tudo muito, Graças a Deus.
Beijos a todos e votos de boas lembranças dos seus.
P.S Desculpe-me meu pai, mas não vou postar receita porque mel com farinha e café ralo , ninguém merece!

3 comentários:

  1. Gostei de conhecer seu Vává talvez porque não cheguei a conhecer nenhum dos meus avós: o materno faleceu antes de minha mãe se casar, o paterno foi ao Brasil quando meu pai tinha 5 anos, para ser rico e nunca mais se soube dele...Oxalá que tenha conseguido! Tambem gostaria de mandar um PS para meu pai mas, infelizmente, já se foi e, minha mãe, lá foi atrás! Conforta-me sentir que foram bons pais e eu não os terei desiludido...Perdão pela lágrima!
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  2. Caro amigo,
    a sua sensibilidade me toca e contigo partilho a lágrima.
    Abraços fraternos

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  3. Mãe,

    Só para registrar o quanto achei lindo este post!

    Beijos

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